Hospital Público Galileu, em Belém, é referência na rede pública de saúde estadual para tratamentos de lesões na traqueia e traumas
Por Roberta Paraense
16/04/2025
Hospital Público Galileu, em Belém, é referência na rede pública de saúde estadual para tratamentos de lesões na traqueia e traumas
Aos 16 anos, Júlia Cruz já tem uma longa história de superação e força emocional para contar. Em 2023, durante um retiro espiritual, ela percebeu uma anormalidade na região do seu pescoço. Ao voltar para casa, mostrou para sua família e recorreu à ajuda médica. Ela foi diagnosticada com um cisto ósseo na mandíbula. E desde então, a adolescente venceu várias lutas, entre elas: a recuperação da fala, já que a doença a impossibilitou de fazer o que mais ama: se comunicar e cantar.
Moradora de Augusto Corrêa, no nordeste paraense, Júlia Cruz fez um intenso tratamento.
“Eu usava a minha voz tanto para falar, quanto para cantar e foi difícil perdê-la repentinamente”, relatou.
A primeira cirurgia foi feita em uma unidade de referência, no bairro do Guamá, na capital, Belém, onde retirou o cisto. Após o procedimento, ela ficou entubada por cinco dias, e logo, apresentou um desconforto respiratório, e precisou passar pela traqueostomia, e então foi encaminhada ao Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), na Região Metropolitana de Belém.
Renovação da esperança
“O meu caso era raro e complexo. Porém, os médicos da unidade entraram em contato com o doutor Roger Normando, do Galileu e ele, imediatamente, foi me visitar no leito do primeiro hospital em que fui internada. O doutor Roger passou o número dele para a minha mãe e me encaminhou para o Galileu naquele mesmo dia”, recorda.
Ao chegar no HPEG, Júlia fez mais três cirurgias: traqueostomia, por consequência da estenose na operação; a reconstrução e retirada de estenose e a retirada de granuloma. A última operação ocorreu no dia 18 de janeiro passado, e a adolescente já comemora sua recuperação.
“Os resultados foram melhores do que o esperado. Estou muito bem, graças à incrível equipe do Galileu e aos doutores Roger Normando, Ajalce Janahú e Marco Antônio e toda equipe do hospital Galileu que contribuiu para o êxito da cirurgia”, agradeceu.
Desafios
Antes da adolescente descobrir a doença, ela cantava no coral da igreja, e se apresentava em procissões e missas. “Tive de parar de cantar. Eu amava. Também passei um ano sem ir para a escola, fiquei tendo aula apenas em casa. Mas, hoje, já falo e posso voltar a cantar”, celebrou.
Julia ainda seguirá com o tratamento, no entanto, atualmente, se sente vitoriosa. “Meu sonho é ser uma cirurgiã bucomaxilofacial, me apaixonei pela área e quero salvar vidas”, afirmou.
Referência
No Dia Mundial da Voz, celebrado no 16 de abril, data criada para conscientizar a população sobre a importância da voz e dos cuidados necessários para preservá-la, o HPEG, tem registrados mais de 2 mil procedimentos na especialidade torácica e mais de 150 cirurgias de alta complexidade, minimamente agressivas, com endoscópicos que substituem a cirurgia e devolvem a qualidade de vida.
Os procedimentos das vias aéreas, tratam de lesões na laringe, na traqueia e nos brônquios, o que pode trazer de volta a necessidade de falar.
“Do ponto de vista epidemiológico, esse número é grande e desproporcional ao restante do Brasil e de outros países. Por isso, atendemos várias pessoas de fora que mantêm o conhecimento das cirurgias feitas no Galileu. Existem poucos especialistas na área também. Esse Programa é, acima de tudo, um programa social, assim como a medicina”, destacou Roger Normando, médico coordenador do Serviço de Cirurgia Torácica do HPEG.
A cirurgia
A cirurgia feita no Galileu, trata- se da retirada da traqueostomia, o que, auxilia na voz. O especialista explica que quando o ar quando passa, movimenta as pregas vocais e faz vibrar o que gera a voz. “Nos pacientes que usam traqueotomia, ou seja, estão com o ar baypassado, existe uma ponte que não permite com que o ar passe do pulmão para as pregas vocais, então quando eu expiro eu falo, quando eu inspiro eu não consigo falar”, detalha Roger Normando.
O cirurgião reforça que para falar é preciso expirar. “Se eu coloco uma ponte no meio do caminho e desvio o ar, ele não vai vibrar as pregas vocais. Então, quando tiramos a traqueotomia de nossos pacientes, o ar passa e volta normalmente, assim, o paciente volta a falar”, detalhou o cirurgião.
Recuperação
O especialista garante que após os procedimentos, o paciente precisa tomar alguns cuidados, no entanto, nenhum é específico para a voz. “Ao contrário, o paciente pode voltar a falar bem, já que a recuperação é imediata. Você recupera o movimento aéreo da expiração e a prega vocal volta de imediato”, destacou.
O coordenador explica ainda que se o paciente teve as cordas vocais danificadas antes da cirurgia, o dano é irreversível, onde não há chances de recuperação. No entanto, durante a cirurgia elas também podem ser danificadas, já que é um micro nervo, difícil de ser visto durante a operação, o que pode levar pode ser danificado. No entanto, essa possibilidade é rara, sendo mais evidente em doenças malignas.
Os procedimentos da especialidade de cirurgia torácica tratam dos traumatismos torácicos, câncer de pulmão e outras doenças pulmonares benignas e cirurgia das vias aéreas. Segundo Roger Normando, nos últimos tempos, estão se destacando o transplante de pulmão e a cirurgia minimamente invasiva, seja a cirurgia por vídeo, seja cirurgia robótica.
Pioneiro no Norte do Brasil, o serviço de alta complexidade oferecido pelo HPEG ainda é pouco ofertado no País. Com o centro implantado no Hospital paraense, os procedimentos se tornaram destaques internacionais.
“A traqueo não é uma especialidade. Mais conhecida como cirurgia das vias aéreas, ela é parte de cirurgia torácica, embora algumas outras especialidades também possam realizar, mas isso é pouco comum. Vale entender que as vias aéreas têm uma parte no pescoço e uma parte dentro do tórax, que é a mais complexa. Como ela faz parte do aparelho respiratório, que é de domínio do cirurgião torácico, por essas questões acabou fazendo parte da nossa especialidade”, explicou Roger Normando.
Perfil - O Hospital Público Galileu, administrado pelo Instituto de Saúde e Social da Amazônia – ISSAA, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) é referência na rede pública de saúde estadual para tratamentos de lesões na traqueia e traumas. O HPEG é referenciado via rede Estadual de Regulação.
Texto de Roberta Paraense
Fonte: ISSAA - https://agenciapara.com.br/noticia/66305/galileu-realiza-procedimentos-raros-e-complexos-para-a-recuperacao-da-fala